25 novembro 2007

Metáfora

Ladeira abaixo, corre desviando dos buracos da rua. Os dentes, cerrados, seguram o nó da garganta. O medo é o dono de todo seu pensamento, e não há coragem pra encarar quem quer que seja. É difícil entender porque as coisas tomaram este rumo, mas já é tarde pra voltar atrás. Nunca houve uma má intenção nos seus atos, não foi uma escolha, as coisas simplestemente aconteceram. Quando a mochila começa a pesar nas costas, tira algumas das tralhas que trás consigo, bebe dois goles d'água e deixa uma gota escorrer pelo queixo. Amarra o moleton à cintura. Não é uma fuga, pelo menos, não deveria ser.
O difícil das escolhar não é guardá-las na mochila, mas encará-las, depois que crescem. Por mais que negue, senti que havia culpa nisso. Não deveria ter tentado esconder, não deveria ter deixado transparecer, não devi ter permitido existir. Devia ter continuado fingindo, quieto, e, um dia, esqueceria o que estava acontecendo. O nó, que foi engolido, dói no peito e fisga o coração. O sangue fui amargo pelo corpo. Senta ao meio fio e pensa, suando, no que está acontecendo e, em como tudo isto aconteceu.
 
Volta-se, devagar para trás, o nó explode e vertem as lágrimas. O corpo ancia, e as pernas não sabem o que fazer. O interesse despertado pelos curiosos não existe, nada mais existe dentro de sí. A dúvida, uma vez alimentada, não deixa a mente, que formiga o corpo, que consome toda a alma. Morrer é fugir das boas possibilidades que possam vir, lembra-se das palavras da vó "depois da tempestade...". Viver é ter que sentir doer o peito, por este momento que parece eterno.
 
Aprendeu a ver as cores, mesmo em dias cinzentos, mas as coisas já não tem o mesmo gosto, o mesmo cheiro. O toque está menos sensível, deve ser um síndrome. O corpo volta para casa, não se deixando levar pela mente, que, já amarga pelo sangue, desfaz-se em pensamentos. Volta a cama suada e ao banho gelado. Com dificuldade levanta os olhos. E segue em frente.
 
 
Há males que vem para o bem.

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