31 julho 2011

Caraca... Esse blog tá completamente às traças de novo... E um pouco de propósito... Eu ando tão guardando as coisas dentro de mim, incentivada por alguém que não me deixa reclamar de nada, que o coração tá quase explodindo de novo. E a grande novidade: estou de saco cheio e me sentindo sozinha. não sei se expor a vida pras pessoas assistirem ajuda em alguma coisa, mas enfim, os amigos estão todos tão distantes e as pessoas próximas, ou não estão dispostas a ouvir o que eu tenho a dizer, ou ficam ainda mais confusas, o que acaba mesmo me perturbando. O que rola, principalmente, é que eu descobri que dar aula não é o canal. Uma escola pode ser um lugar incrível, e é... mas pra coisa toda funcionar, é preciso que uma sociedade toda aja em cooperação... E infelizmente não é isso que acontece. No final das contas, os professores precisam competir com um milhão de maus exemplos que as crianças e os adolescentes assistem na rua, em casa e na televisão, fazê-los acreditar que tudo aquilo não serve para nada, ensiná-los a pensar por si próprios e ainda "ensiná-los" o que seria "a matéria". Isso tudo se eles permitirem ao professor falar. O que eu não consegui em praticamente nenhuma turma de 5 e 6 anos. Frustante. E olha que eu tinha feito todos os meus futuros planos, desejando mais que tudo no mundo que eu amasse dar aula de História e descobrisse o tal de "cara, nasci pra isso!". Pelo menos eu saí da Good desejando isso demais. O que me acontece então... Larguei a monitoria pra poder assumir turmas de História, que eu sabia que seria temporário... O que eu não esperava, era que quando o professor titular viesse, eu tivesse que abrir mão de praticamente todas as minhas horas de planejamento, pra dar aula... Mesmo ser saber o que é isso com certeza. Quem é professor é Rei. Sério. E ainda mais... Quem consegue de fato ensinar alguma coisa pra alguém... cara, merece o céu. Pra mim, infelizmente, não rolou.
O fato é, que desde que eu entrei a escola - e aí já vão uns 4 meses - eu entendi que a licenciatura não era legal, e comecei a pirar muito por causa deste lance profissional. Comecei a olhar pro lado e ver que todo mundo com a minha idade já tem uma vida mais ou menos formada, uma profissão, alguém com quem formar uma família, sei lá. Esse lance da idade, então... Ainda tá me deixando doida... Acabo me fazendo uma pilha de cobranças, um peso complicado de se carregar sozinha. SOZINHA, lição que já me foi atirada na cara um milhão de vezes. De fato, em geral as pessoas  só querem falar de si, não gostam muito de ouvir. E eu também nunca fui muito persuasiva neste sentido (e em tantos outros também, né?). Acabo que não tenho mesmo com quem abrir o coração e com quem trocar este monte de idéias e de coisas que estão passando por aqui. Se eu sempre achei injusto se escolher uma só profissão para sempre, agora, então... Essa é uma das coisas que eu to digerindo devagar. Talvez seja realmente só uma cobrança da sociedade que eu tenha uma faculdade, que eu tenha uma profissão, que eu seja professora e que eu tenha filhos. Um carro, um cafofo e viajar por aí, isso sim sempre esteve nos meus planos... E agora acabo percebendo que deixei essas coisinhas minhas pra lá pra correr atrás do que as pessoas me fizeram acreditar que era certo. E sinto que a minha consciência tem sido imensamente cruel comigo, me fazendo o tempo todo pensar nas coisas e pessoas que eu deixei pra trás, nas coisas que eu não tive coragem de fazer, por não me dar conta que a vida é a coisa mais solitária que há, e que eu deveria ter tomado as rédeas muito, mas muito tempo atrás, e me fazendo olhar pra todos os lados, me comparando o tempo todo com todo mundo. E eu sei que eu sou a miss choradeira, e acho que tentar conter isso aqui dentro do peito torna a coisa tão dolorida e tão cruel que não é possível suportar sozinho. Como me fazem falta os amigos, as risadinhas, a minha espontaneidade, algumas vozes, papos, companhias... 
Esses dias fomos ao Centro Budista, e sempre que penso neste filosofia, fico surpresa com o quando se pode pregar o desapego, e como isso pode te iluminar. Acho que eu sou a pessoa mais apegada a tudo no mundo. Pessoas, cheiros, comidinhas, conversas. De repente pelo lance de ter sido criada sem irmãos, eu adoto um milhão de coisas, e tenho muita confusão nos sentimentos, uma insegurança que chega a dificultar a coisas pra mim. Neste momento, o meu peito parece que está vazio, e eu não sei direito de onde eu vou tirar força pra conquistar mais alguma coisa. Provavelmente as minhas contas pra pagar consigam me fazer acordar amanhã cedo e voltar pra "dar aula" lá na escola, e uma carência maluca me faça procurar o boyfriend a todo momento. o espírito pede socorro como doido, assim como o coração.
Sim... São aquelas fases. Vai passar, com certeza. Mas parece que a cada momento a fase demora um pouco mais pra passar e cada labirinto é mais escuro. E eu, cada vez um pouco mais sozinha. 
Apelar prum feitiço? Acho que é o jeito... Logo, logo terão um emprego bacanão e poderei fazer mil coisinhas e cursos sem a menor pretensão de descobrir o que eu farei para o resto da vida. Só com a vida pra ser curtida.

Vem, força, que tá difícil.

13 julho 2011

Feliz Dia do Rock

11 julho 2011

Sobre Gueixas

"... Acho que Hatsumomo não poderia ter encontrado nada mais cruel para me dizer. Por um ano e meio, agora, eu fora condenada às duras condições da vida de criada. Sentia minha vida estender-se diante de mim como um longo caminho que não leva a lugar nenhum. Não quero dizer que desejasse me tornar uma queixa. Mas certamente não queria ser uma criada para sempre. Fiquei longo tempo parada no jardim da escola observando outras meninas da minha idade conversando entre si ao passar. Podiam estar voltando ao seu okiya para o almoço, mas para mim estavam indo de uma coisa importante para outra, com objetivo em suas vidas enquanto eu voltaria para algo que não mais glamouroso do que esfregar pedras no pátio. Quando o pátio ficou vazio, fiquei parada preocupando-me porque talvez fosse um sinal que eu estava esperando - que outras meninas do Gion iriam progredir em suas vidas, deixando-me atrás. Essa ideia me deu tal medo que não consegui mais ficar sozinha no jardim. caminhei pela Avenida Shijo, e dobrei em direção ao Rio Kamo. Bandeiras gigantes no Teatro Minamiza anunciavam uma peça kabuki naquela tarde, chamada Shibakaku, uma de nossas peças mais famosas, embora eu nada soubesse de kabuki naquele tempo. Multidões subiam os degraus, entrando no teatro. Entre os homens em seus ternos escuros de estilo ocidental destacavam-se várias gueixas em cores brilhantes como folhas de outono nas águas barrentas de um rio. Ali mais uma vez vi a vida em toda a sua rumorosa excitação, passando por mim. Afastei-me depressa da avenida, descendo a rua lateral ao longo do Riacho Shirakawa, mas mesmo ali homens e gueixas corriam seguindo suas vidas tão cheias de objetivo. Para fugir dessa dor virei-me para o Shirakawa, mas cruelmente até suas águas deslizavam com objetivo - para o Rio Kamo e de lá para a Baía de Osaka e o mar de Dentro. A mesma mensagem parecia esperar por mim em toda a parte. Deixei-me cair numa pequena amurada de pedra na beira do rio e chorei. eu era uma ilha abandonada no meio do oceano, sem passado e sem futuro. Logo senti que chegava a um ponto em que nenhuma voz humana poderia me alcançar - até ouvir uma voz masculina dizer:
- Ora, um dia tão bonito para ser tão infeliz."
(Arthur Golden - Memórias de uma Gueixa, pg. 119)