29 janeiro 2008

Prezado

"Coronel Duarte, 27 de novembro de 1967.
 
Amigo Jonatha,
 
Se eu soubesse que tu leria esta carta, diria que mudamos.
Diria que eu tentei e tentei, e continuo tentando, apesar de já não ter esperança de que seja como era antes.Se eu soubesse que tu fosse, realmente entender estas linhas, que irias sentir, de fato, um pouco do que sinto, eu escreveria que não estou dentro de mim, que não governo minhas pernas, que tem muita confusão na minha cabeça. Não que eu pense que fugir seja a solução, mas eu gostaria de me esconder e voltar só quando já estiver tudo resolvido, e esquecido. Já não me sinto importante quanto antes, já não me sinto necessária e amada, como um dia, você bem sabe, eu me emocionei por não acreditar ser tão imenso. Por onde você tem andado? Já não lembro direito da sua voz. Espero que tenha conseguido aquele emprego. Espero que tenha comprado aquele disco, espero que tenha lido aquele bom livro. Eu já não leio mais. Durmo escutando aquelas músicas tristes, acordo no meio da noite a pensar e pensar. Vejo tantas pessoas podendo medir os passos que andam, mas eu, não sei o quanto posso andar. Não sei pra que lado devo seguir. Tenho a vontade de voltar ao tempo que nos conhecemos e fazer tudo de novo, desta vez certo, desta vez mais colorido. Mas sei que toda esta mudança, toda esta diferença, fará diferença no futuro. Os meus olhos, já não vêem do mesmo jeito, meu amigo, e os meus braços doem quase insuportavelmente, tal é a força que faço todos os dias, pra manter-me de pé. Não como bem, não durmo bem, estou neurótica com algumas coisas. Sei que as coisas vão melhorar, sempre melhoram, sempre se ajeitam. O difícil é o processo. Meu coração doi tanto que prefiro ignorá-lo. Ele poderia não dar tantas opiniões na minha vida.
No mais, vamos indo, não se sabe bem pra onde. Deixei Deus determinar.
Um abraço.
Bibiana Giacomazzi"

Um comentário:

Vanessa disse...

Isso é tão meu!
Parece as palavras que eu diria guardadas em uma gaveta em alguma parte escura da minha mente...
Tão estranho e tão íntimo.
sabe aquelas palavras que jamais devem ser proferidas por nós mesmas, mas sim pelos outros e mesmo assim continuaram sendo nossas.

Ai esse mundo de palavras que me intriga, confunde e entorpece a mente insana do meu eu.

Beijokas linda